IN-DIGESTÂO
Crítica
de Celmar Ataídes Júnior - Produtor do Festival de Inverno
de Ouro Preto
“O que é isso?” “Que doideira!” “Não
entendi nada” “Bravo!” “Você viu aquilo?!”
“Não fico mais neste teatro.” “Não sei
explicar o que vi, mas gostei.” “O espetáculo é
muito bom, mas deveria ser feito em outro lugar, não neste teatro.”
“Eu tenho um sapo: como é que vocês (produtores) deixam
os caras fazerem aquilo com o teatro?” “Um excelente espetáculo
de pesquisa.” Estas foram algumas palavras dos espectadores “digestos”
ou “in-digestos”.
Particularmente acredito que a participação do Grupo Oficcina
Multimédia retomou o caráter investigador, instigante e
inovador do Festival de Inverno de Ouro Preto com o espetáculo
“In-Digestão”. Trouxe uma concepção ousada
em que cenário e figurino se misturavam em meio a um amontoado
de sucatas e pouco a pouco se transformavam, se assim poderia dizer, em
sucata da própria sucata.
Se a mim me fosse perguntado o que tenho a dizer deste espetáculo,
provavelmente resumiria em uma palavra tudo o que pude ver, ouvir, cheirar,
sentir; enfim... Denúncia é a minha palavra. Justamente
pelo fato de que o que me foi apresentado é a leitura de um futuro
não muito distante e que possivelmente seja uma leitura nem um
pouco diferente do que realmente pode acontecer. O mundo sucateado, as
pessoas sucateadas e oprimidas. E quando falo de opressão me recordo
de uma passagem muito interessante no espetáculo onde o público
participa diretamente podendo liberar, digerir o seu “sapo”
(como é referido), aquilo que o oprime, que o incomoda.
Um espetáculo para quem gosta de inovação, pesquisa
e de repente para quem gostaria de digerir seu sapo ou deixá-lo
da in-digestão.
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