O vídeo no espetáculo,traz para a cena, imagens filmadas em Ouro Preto, numa alusão à nossa tradição mineira em seu caráter ao mesmo tempo sombrio e magnífico. Com ele também transitamos pelo lado de fora da casa de Bernarda Alba e nos deparamos com a crueza e as promessas de um mundo cheio de mistérios ao qual as heroínas da estória, trágicas em sua condição de prisioneiras, não têm acesso.
A movimentação cênica dos atores é resultante de uma operação construtivista que se manifesta também na elaboração do cenário. A estrutura espacial, definida pelo jogo de volumes , pelas múltiplas ordenações simultâneas e consecutivas reordenações de planos, definem uma visão cubista fiel à própria linguagem de Lorca em seus poemas. Neste cenário transitam os personagens , ambientando cada momento do espetáculo de acordo com sua tensão dramática peculiar.
A trilha sonora de Bernarda Alba faz referência à tradição mourisca na cultura hispânica, através dos sons e ritmos das tablas islâmicas – próximos também aos da música brasileira – assim como incorpora os instrumentos primitivos da cultura oriental (China, Tailândia, Indonésia, Romênia) à sonoridade lânguida dos violões espanhóis (Issac Albeniz, Francisco Tárrega), em sua construção melódica similar ao de nossa modinha mineira. Como pano de fundo, a sonoridade dos sinos da Igreja S. Francisco de Assis de Ouro Preto ambientam a atmosfera de um funeral marcando a presença da morte dentro do espetáculo.
As citações visuais de Pablo Picasso e suas Les Demoiselles d’Avingon (1907), que marcaram o início do cubismo na história da arte, e de Velázquez com As meninas (1656), foram recursos utilizados na programação visual de Adriana Peliano com o objetivo de referenciar a própria cultura hispânica e homenagear seu dramaturgo mais importante, fazendo uma alusão ao binômia tradição/vanguarda, marcante em toda a trajetória de García Lorca.